Ser autista é muito diferente de ter autismo. Ser autista é o conjunto de crenças que trago, é parte de minha personalidade, é imutável, intenso, e é o meu modus operandi, de onde partem e recebo as visões de mundo.
Ter autismo, é algo externo a mim, é mutável, é como adquirir algo e descartar quando não se
deseja mais.
Meu diagnóstico foi tardio, e ainda estou no processo de entendê-lo, algumas vezes esse entendimento é difícil, e em outras vezes são respostas a tantas vivências na vida. Mas, uma das minhas certezas é que, embora a adaptação ao mundo seja complicada, eu me amo autista.
O mundo externo pode pensar: “Como amar um transtorno que muitas vezes te deixa exposto, vulnerável, traz dores? E eu respondo: “Amo porque já havia entendido desde o diagnóstico de meu filho que o remédio para o
autismo é o próprio autismo”.
Não deveríamos ser nós a nos adaptar num mundo contrário às diferenças, mas seria esse mundo “normalizado”, que está se destruindo, notar e bendizer as nossas diferenças. As nossas características muitas vezes nos causam dor, não pelo autismo, mas pelas condições inadequadas de lidar com pessoas despreparadas, com a falta de serviços e o acesso a eles.
É o capacitismo que dói, é a falta de diagnóstico precoce e intervenções adequadas. O que dói são as pessoas com as invalidações de nossos diagnósticos, é a falta de crença em nossos potenciais, é a falta de oportunidades justas para que atuemos no mundo de maneira funcional.
Sim, eu amo ser autista, e eu sinto um orgulho imenso de mim. Sinto orgulho de meu filho, meus amigos e todos os autistas. Penso que o aumento na prevalência do autismo se deva também ao fato de que o planeta precisa mudar para continuar a existir, a Terra pede socorro por estar sendo tão violada, e autistas (a neurodiversidade) em suas características evoluídas é que irão criar um novo modo de ser/estar no mundo.
Nós trazemos a mudança! Há muito orgulho em mim, por ser agente de mudança, há muito orgulho em mim por ser autista!