O excesso de trabalho a que são submetidas pessoas do gênero feminino, há muito, é conhecido pelo senso comum. Segundo Deddeca et al. (2009, p.11).
Em resultados datados de 2006, homens e mulheres na condição de ocupados tinham jornadas totais de trabalho de 49 horas e 56 horas, respectivamente.
Sendo a composição total da jornada trabalhista significativamente distinta entre os sexos. Os homens, com jornadas equivalentes a 44 horas, sendo 5 horas destinadas à reprodução social. Já as mulheres, com jornadas de 37 horas no mercado de trabalho e 19 horas para a reprodução social, resultando num total em média 15% superior a dos homens.
Já números de 2024, mostram a jornada feminina no âmbito doméstico, onde as mulheres dedicam o dobro do tempo que os homens em tarefas do ambiente familiar .
Elas despendem uma média de 21,6 horas semanais, contra as 11 horas despendidas pelo gênero masculino. O que se conclui que a sobrecarga de trabalho sem remuneração também afeta muito mais as mulheres.
Com esses dados, evidenciamos a jornada dupla que cumprem as mulheres típicas. Mas, e quando a jornada se torna tripla por ser a mulher também mãe? E ainda mais se essa mãe for atípica? Tendo essa alta carga de trabalho, responsabilidade e tempo tão reduzido para si, é possível que essa mulher tenha autoestima e cuide de si também?
A autoestima pode ser definida como a capacidade de valorização (ou não) da própria identidade; se há satisfação em ser quem se é; se há autoconfiança e reconhecimento de valor.
Autoestima alta é importante
Ter a autoestima alta é importante para qualquer gênero humano, afim de apresentar bem-estar emocional, maior interação com seus pares, e a aceitação de que qualquer indivíduo apresenta pontos fortes e fracos. A autoestima alta permite ao sujeito sair mais tranquilamente de sua zona de conforto e encarar melhor seus problemas diários.
Em contrapartida, a baixa autoestima pode fazer a pessoa sentir-se incomodada, incapaz de responder a um elogio, ter sua capacidade de decisão afetada, relutar quando precisa dizer não, acostumar-se a dar desculpas constantemente, autocomparar-se e desmerecer-se, etc.
Cabe salientar que é importante que sejam desenvolvidas ações em prol de aumentar a autoestima de mães atípicas, para a prevenção de condições como: exaustão, ansiedade, depressão, e/ou de outros quadros muito comuns nessa população.
Acontecem situações em que a mãe atípica consegue elevar sua autoestima, mas logo depois acaba caindo em “ciladas” como:
# pensamentos negativos sobre sua condição materna,
# comparação com os filhos de outras mulheres,
# enredar-se em conversas de pessoas que se utilizam de suas fragilidades a fim de incutir-lhes (falsas) promessas de tratamentos milagrosos ou produtos ineficazes relacionados ao mercado do autismo.
Há também de se ficar alerta com maus profissionais que contribuem com a baixa autoestima das mães atípicas, invalidando seus saberes e seus valores, não permitindo que se coloquem em consultas ou tratamentos, com a péssima premissa de que são “apenas mães”.
Portanto, para que a mãe atípica possa aumentar a autoestima, é preciso ajudá-la a despertar para o fato que a maternidade atípica pode ter acertos e erros, como também acontece na maternidade típica. Aceitar que ela é um ser humano, às vezes falível e que esteja consciente que, se houver erro, esse não precisa tornar-se motivo de martírio eterno. Assim como também enxergar a possibilidade de que ela é capaz de reverter erros e escolher novos caminhos.
Nesse sentido, devemos propor projetos ou apoiar os existentes que empoderem essas mães, incentivando-as a terem metas para si que sejam realistas e que possam ser cumpridas. Os assuntos sobre autoestima serem tratados em grupos e que girem em torno de assuntos como: construir sua rede de apoio, fugir do perfeccionismo e olhar para si mesma, perceber suas capacidades, sua beleza e valores; buscar aprender sempre, sozinha e/ou com o grupo; compartilhar saberes; sentir que tem direito à felicidade; saber perdoar-se; fazer exercícios físicos; autocuidado com o corpo e a alimentação saudável; buscar psicoterapia; sentir-se segura para, se quiser, falar sobre questões que as aflige; e comemorar seus acertos e avanços.
Os governos precisam entender que trabalhar com prevenção tem menos custos, tanto quanto a preservação da vida, quanto a gastos dos cofres públicos. Há um número alto de casos de ideação suicida entre mães de autistas, principalmente aquelas que estão a margem da sociedade, sem rede de apoio, e sem intervenções adequadas para os filhos.
Quanto maiores os incentivos e cuidados com as mães atípicas, mais estaremos investindo em qualidade de vida, de saúde mental para as mesmas, seus filhos autistas e suas famílias.