20/06 | 2 anos de Coletivamente

Compartilhe

Para uma boa volta às aulas

Compartilhe

A volta às aulas marca um período de renovação na rotina escolar, mas para crianças com autismo esse momento pode despertar inseguranças e desafios específicos. Do excesso de estímulos sonoros à falta de previsibilidade nas atividades, muitos obstáculos ainda impedem que essas crianças tenham uma vivência escolar plena. Para que o retorno seja realmente inclusivo, é preciso mais do que boas intenções: são necessárias escuta, planejamento e compromisso coletivo com o bem-estar e a dignidade de cada estudante.

No Brasil, mais de 600 mil estudantes com transtorno do espectro autista (TEA) estão matriculados na educação básica, segundo o Censo Escolar de 2023. Mas estar na escola não basta: é preciso garantir que essas crianças tenham, de fato, uma experiência educativa segura, respeitosa e significativa.

Para o professor Nilson Sampaio, especialista em inclusão de pessoas com TEA e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), segurança não é apenas evitar acidentes físicos. “Segurança para uma criança autista é poder existir sem sofrer violência emocional, sem ser pressionada a agir como uma criança neurotípica. É ser respeitada em sua forma de sentir, perceber e se expressar”, afirma.

Por isso, pensar em inclusão é também refletir sobre o ambiente escolar. Luzes intensas, barulhos constantes e rotinas imprevisíveis podem gerar sobrecarga sensorial e dificultar o aprendizado e o bem-estar. “Segurança é também conseguir respirar, se regular e se comunicar — mesmo que de formas não convencionais”, completa o professor.

Apesar de avanços nas leis e nas matrículas de estudantes com TEA, muitas escolas ainda não oferecem formação adequada aos professores. Nilson destaca a urgência de investir em capacitação e supervisão especializada. “Não existe um manual único para o autismo. Cada criança é única, com suas necessidades e potencialidades. É essencial que os educadores estejam preparados para lidar com essa diversidade.”

A construção de uma escola realmente inclusiva envolve todos os profissionais: diretores, coordenadores, professores, equipe de apoio, merendeiras, porteiros. “Incluir não é responsabilidade exclusiva do professor da turma. É um compromisso coletivo com o bem-estar da criança”, reforça.

Previsibilidade é cuidado

“O autismo não tem um manual único. Cada estudante tem singularidades e necessidades específicas. Por isso, é urgente que as escolas invistam em formação continuada, supervisão especializada e um trabalho conjunto com as famílias”, aponta.

A rotina é uma aliada poderosa no processo de inclusão. Muitas crianças autistas têm necessidade de previsibilidade para se sentirem seguras. Por isso, quadros visuais, horários estruturados e explicações antecipadas de mudanças na rotina são recursos indispensáveis. “Ferramentas como agendas ilustradas, mapas da escola ou roteiros do dia ajudam a criança a se preparar emocionalmente. Previsibilidade é uma forma de respeito”, diz Nilson.

Ele também defende que toda a equipe escolar seja conscientizada sobre autismo. “Incluir não é tarefa só do professor da sala. É um compromisso coletivo com o bem-estar da criança.” O professor enfatiza que a escuta das famílias é um dos pilares da inclusão segura. “Os cuidadores conhecem melhor do que ninguém os sinais, os limites e os potenciais da criança. São aliados valiosos e precisam ser tratados com respeito e abertura.”

A parceria entre família e escola, segundo ele, não pode se resumir a bilhetes na agenda. Deve envolver reuniões regulares, planejamento conjunto e disposição para ouvir críticas e sugestões. Tornar as escolas mais seguras para crianças autistas é um ato de justiça e de responsabilidade social. Requer investimento, formação, escuta ativa e o abandono de modelos capacitistas e padronizadores.

“A escola deve ser um espaço onde todas as crianças possam existir com dignidade. Quando falamos em segurança, falamos também em pertencimento. Nenhuma criança deve ter medo de ser quem é para poder aprender”, diz Nilson Sampaio.

FONTE: https://www.bemparana.com.br/publicacao/blogs/tictag/como-acolher-criancas-com-autismo-desde-o-primeiro-dia-de-aula/

Veja também...

No vídeo abaixo, bem humorado, toco em pontos que comumente as pessoas confundem quando tratamos de autismo. Espero que gostem.

Mãe, pai… Você não precisa dar conta de tudo.Nem ser perfeito.Nem acertar sempre. Ser pai ou mãe já é, por si só, …

Você já conhecia o Experimento de Milgram? Nos anos 1960, o psicólogo Stanley Milgram realizou um dos experimentos mais marcantes da história …

plugins premium WordPress