20/06 | 2 anos de Coletivamente

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Sem sustentação científica

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Declaração recente do presidente dos EUA, Donald Trump, relacionou o aumento da prevalência do autismo ao uso de paracetamol e ao excesso de vacinas na primeira infância. É fundamental esclarecer, com base em evidências científicas robustas, que tais associações não têm sustentação na literatura médica.

O autismo é uma condição complexa e multifatorial do neurodesenvolvimento, com forte contribuição genética associada a fatores ambientais. Entre os fatores já comprovados estão o uso de ácido valpróico na gestação, idade paterna avançada e infecções maternas; outros ainda estão em estudo. Reduzir sua causa a um único elemento, como medicamentos ou vacinas, é um erro que pode gerar medo e decisões equivocadas em saúde.

No caso do paracetamol, alguns estudos observacionais levantaram hipóteses, mas análises rigorosas — como o estudo com mais de dois milhões de crianças publicado no JAMA (Ahlqvist et al., 2024) — não confirmaram relação causal com o autismo; há necessidade de mais estudos. De qualquer maneira, gestantes devem consultar seu médico para uso de qualquer medicação.

Quanto às vacinas, inúmeros estudos epidemiológicos em larga escala já demonstraram de forma consistente que não existe vínculo entre vacinação e TEA. A suposta associação com a tríplice viral, levantada nos anos 1990, foi amplamente refutada e o artigo original, retratado por má conduta científica.

O aumento da prevalência de TEA nas últimas décadas está relacionado a maior conscientização, ampliação dos critérios diagnósticos e acesso a serviços de saúde, e não a uma “epidemia” causada por fatores externos isolados, embora se reconheça que fatores ambientais de risco possam contribuir para a manifestação do transtorno.

É essencial que pesquisas avancem, mas também que a comunicação científica seja responsável. Atribuir o autismo a fatores sem respaldo sólido desinforma e coloca em risco a saúde, desenvolvimento e qualidade de vida.

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