Diagnóstico de autismo tem a ver com tempo de tela (smartphone, computador, videogame)? Um estudo recentemente publicado na JAMA Pediatrics encontrou relação entre essas variáveis.
Este estudo serviu como fonte para uma matéria na revista Crescer (já retratado), que escreveu de forma a deixar um pouco “polêmica” essa relação (o tal do “autismo virtual”).
No entanto, casos como este não são raros. Vitamina D, vacinas e ácido fólico são algumas das variáveis que já foram (e ainda são) relacionadas com autismo. Estes estudos, quando divulgados de forma menos criteriosa, podem acabar disseminando informações equivocadas.
Quer dizer, então, que tempo de tela e autismo têm algum tipo de relação? Os pesquisadores, de fato, encontraram uma relação entre o tempo de tela durante o primeiro ano de vida e o diagnóstico aos 3 anos de idade.
Entretanto, encontrar uma relação entre variáveis não significa necessariamente uma relação de casualidade (quando uma coisa causa a outra).
Ou seja, não se pode inferir que um maior tempo de tela pode causar autismo a partir desse estudo. Para entender melhor, precisamos desenvolver algo fundamental para compreender a ciência: a análise crítica.
Então, aproveitei a ocasião para expor um pouco sobre o quão fundamental é mantermos nosso senso crítico ao ler um artigo científico – por mais sério que ele possa parecer!
Possíveis relações
Seria possível que crianças hiperfocadas em telas fossem mais facilmente diagnosticadas com TEA em comparação às que não são? Talvez autistas que manifestem foco menos esteorotipado não foram diagnosticados apropriadamente;
E as crianças que ainda serão diagnosticadas após os seus 3 anos de idade? Talvez o número exato delas revelaria que, na verdade, não exista tanta diferença assim;
Talvez parte das crianças (que já nasceram) autistas manifestou uma preferência maior por telas digitais e, justamente por conta de suas preferências, acabou ficando exposta por mais tempo que as demais.
Cuidado!
Devemos ter muito cuidado ao inferir um artigo científico, por mais sério e relevante que ele possa parecer. A ciência nunca deve estar desacompanhada de uma análise crítica. Resumos são úteis, mas não suficientes. Dicas: leia o artigo inteiro, analise suas críticas, discuta.