‘Se meu filho não fosse autista’. Talvez seja a frase que quase toda mãe e pai tenha se perguntado, mesmo que em um momento de cansaço.
O autismo não vem com manual. Não tem livro de desenvolvimento para explicar cada fase, pelo contrário, a gente lê esses livros e se desespera porque não vê nada daquilo acontecer. Aí é muito natural pensar como seria nossa vida se nosso filho não fosse autista.
O tempo passa, o autismo fica. Descobrimos que a frase passa de natural a perigosa para nossa saúde emocional.
Se nosso filho não fosse autista, não sabemos como seria. Um leque de possibilidades, boas e ruins. Se nosso filho não fosse autista, ele poderia não ser o que esperávamos, ainda que sem autismo. Não ser autista não garante nada. Essa é uma previsibilidade ilusória. Suposição do que não sabemos nem temos como saber. Isso é sofrimento.
Se nosso filho não fosse autista, ainda assim, não teríamos garantia de ter uma vida sem problemas porque nossos problemas são tão importantes enquanto existem – e sempre existem.
Sem imunidade
Problemas mudam de nome, de casa, de situação, mas fazem parte da vida de todos nós, cedo ou tarde. Ninguém fica imune o tempo todo.
Se meu filho não fosse autista, muita coisa poderia ter acontecido; coisas de uma vida que eu não vivi. E qual o sentido de viver uma vida que não é nossa?
O que tem pra hoje: autismo.
O que não tem: a vida sem o autismo.
O que podemos fazer para sermos felizes de qualquer jeito? Com certeza qualquer resposta inclui a aceitação da nossa realidade – o primeiro passo para evoluir na ressignificação dos sonhos pré maternidade/paternidade.
Seu filho é autista. Ele está aí e precisa de pais inteiros, que os amam e com uma imagem positiva deles e de si mesmos, uma atitude que vai trazer paz e mais chances de desenvolvimento.
Que este, então, seja um pensamento temporário que não crie raízes no seu coração.
Se meu filho não fosse autista, não seria meu filho. Seria outra pessoa que eu não conheci.