Imagine-se em uma reunião importante: você está determinado a se concentrar, mas sua mente vagueia incontrolavelmente, saltando de um pensamento para outro. Esta experiência, frequentemente vivida por pessoas com o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), é mais do que apenas uma distração ocasional, é uma batalha diária que afeta cerca de 5% da população mundial.
Ao contrário do que muitos pensam, o TDAH não se limita à infância, afeta igualmente adultos, atravessando todas as idades e contextos sociais. Este transtorno, frequentemente mal compreendido, nos desafia a reconsiderar: será que subestimamos o verdadeiro alcance do TDAH e seu impacto não só na vida pessoal, mas também na vida social?
O TDAH é uma condição neurológica caracterizada por dificuldades de concentração, hiperatividade e impulsividade que vão além do comportamento típico para a idade do indivíduo. Diagnostica-se por meio de uma avaliação detalhada, que inclui a análise do histórico comportamental por um profissional de saúde mental. Contrapondo as concepções populares, o transtorno não é produto de falhas na educação ou disciplina, nem é uma condição exclusiva da infância; muitos adultos continuam a enfrentar seus desafios ao longo da vida. Além disso, não está ligado à inteligência ou ao potencial de uma pessoa, desmantelando o mito de que afeta negativamente a capacidade de alcançar sucesso profissional ou acadêmico.
Origens multifuncionais
As origens do TDAH são multifatoriais, envolvendo uma complexa interação de fatores genéticos, ambientais e neurobiológicos. Estudos apontam que a genética desempenha um papel significativo, com um risco maior de desenvolver o transtorno em indivíduos com parentes próximos diagnosticados. Fatores ambientais, como exposição a toxinas na gravidez e complicações durante o parto, também contribuem. Alterações na atividade cerebral e nos neurotransmissores são observadas em pessoas com TDAH.
O impacto na vida cotidiana é vasto e varia de pessoa para pessoa. Na escola, além da dificuldade em manter o foco durante as aulas, crianças com TDAH podem ter problemas para organizar seus materiais e seguir rotinas, o que muitas vezes resulta em desempenho acadêmico abaixo do potencial. No ambiente de trabalho, além de encontrar dificuldade em cumprir prazos, adultos com TDAH podem enfrentar desafios em participar de reuniões longas, manter a atenção em tarefas detalhadas ou lidar com a multitarefa, impactando a produtividade e o avanço na carreira. Nas relações sociais, o transtorno pode levar a mal-entendidos e conflitos, devido à impulsividade e dificuldade em regular emoções, além de desafios na manutenção de amizades de longo prazo ou em interpretar sinais sociais sutis. Em casa, a gestão do lar pode ser problemática.
A jornada de viver com TDAH não deve ser percorrida sozinha. O suporte social desempenha um papel crucial, proporcionando um ambiente compreensivo e encorajador. O apoio de familiares, amigos e colegas de trabalho não apenas ajuda a aliviar o estigma, mas também oferece uma rede de segurança emocional e prática. Além disso, estratégias comportamentais como a criação de rotinas estruturadas, uso de listas e lembretes, técnicas de gerenciamento do tempo e meditação podem ser extremamente benéficas. Estas técnicas ajudam a melhorar a organização, o foco e o controle de impulsos. Grupos de apoio também oferecem um espaço valioso.
As abordagens de tratamento, que incluem medicamentos, terapias comportamentais e estratégias de enfrentamento, são essenciais para ajudar os indivíduos a gerir os sintomas. Avanços contínuos na pesquisa estão ampliando nosso entendimento sobre o TDAH, levando a tratamentos mais eficazes e abordagens personalizadas.
FONTE: https://oglobo.globo.com/blogs/receita-de-medico/post/2023/12/alem-da-distracao-desvendando-o-mundo-do-tdah.ghtml
