20/06 | 2 anos de Coletivamente

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A prevalência do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), também conhecido como DDA, é de 5% em nível mundial e o número de casos vem crescendo, de acordo com dados da Alta Autoridade de Saúde da França (HAS), vinculada ao Ministério da Saúde. O órgão, que emite recomendações sobre práticas médicas, publicou no mês passado um guia para melhorar o diagnóstico e o tratamento das crianças e adolescentes que convivem com o déficit de atenção. 

O transtorno neurológico é provocado por diferenças na estrutura e no funcionamento cerebral da região frontal, explicou o psiquiatra francês Olivier Bonnot, que liderou a equipe responsável pela elaboração do documento que, segundo ele, encerra o trabalho realizado pelo órgão em torno da questão. 

“A ideia em torno dessas recomendações é que elas sejam uma base, um guia para que os profissionais possam fazer o diagnóstico e as intervenções terapêuticas necessárias nas crianças e adolescentes que têm um TDAH. Isso inclui os clínicos-gerais”, explica. 

Na França, os pacientes são obrigatoriamente acompanhados por um clínico-geral. De acordo com o psiquiatra, a ideia é também propor formações reconhecidas para capacitar esses profissionais a detectar o transtorno. 

“Um dos objetivos dessas recomendações é colocar à disposição dos profissionais uma espécie de guia prático para realizar o exame psiquiátrico e clínico dos pacientes, e assim detectar os sinais do TDAH, que são a falta de atenção, o excesso de distração, e impulsividade”, explica. Os sintomas também podem incluir a desregulação emocional e a hiperatividade, que não está sempre presente.

Diagnóstico não é simples

O diagnóstico é complexo, já que outras doenças mentais, como a depressão ou a ansiedade, podem estar associadas ou apresentar características similares. A insônia, lembra, também provoca sintomas parecidos com o do déficit de atenção. Por isso é importante fazer o diagnóstico diferencial e detectar outras comorbidades psiquiátricas. 

Em termos biológicos, estudos mostram que o funcionamento dos cérebros das crianças e adultos que têm TDAH é diferente. “A conectividade de algumas áreas cerebrais, como a frontal, não funciona direito. É mais um problema de conectividade do que de um neurotransmissor, como a dopamina, em particular”, diz.

Ele lembra que os mecanismos das doenças psiquiátricas são alvo de diversas pesquisas e há avanços na compreensão do transtorno. Estudos com imagens mostram diferenças nos cérebros dos indivíduos que convivem com o TDAH, e as neurociências cognitivas trouxeram algumas respostas sobre as origens da doença, que surgem na infância, a partir de anomalias no desenvolvimento cerebral. Não existe, entretanto, um marcador biológico para detectar o déficit de atenção.  

Todos nós lidamos com diversas informações ao mesmo tempo no cotidiano e nosso cérebro deve ser capaz de selecionar aquelas que são importantes para atingir as metas estabelecidas. O sistema cerebral encarregado dessa tarefa é a função executiva, que fará a triagem das informações, hierarquizá-las e produzir uma ação dirigida. Esse mecanismo não funciona direito em quem tem déficit de atenção. 

As recomendações do órgão francês englobam vários aspectos. Entre elas, a detecção precoce em consultas com a criança, os pais, mas também adultos que convivem com elas na escola ou outras atividades. 

Em seguida, é preciso adaptar o ambiente escolar e em casa – os professores e pais devem aprender a lidar com as dificuldades em função das características individuais da criança. O tratamento é principalmente baseado no acompanhamento psicoterápico e a medicação, como a ritalina, por exemplo, só é recomendada em casos mais complexos.

O psiquiatra francês Gérard Macqueron, autor do livro “Psicologia da Atenção”, lembra que, nas crianças, o transtorno pode desaparecer na vida adulta, mas persiste em até 60% dos casos. Entre os adultos, cerca de 5% convivem com a doença sem diagnóstico, ressalta.

A falta de atenção, impulsividade e hiperatividade que caracterizam a doença podem se manifestar de diversas formas. “Em uma conversa ou reunião, por exemplo, a pessoa tem dificuldade em se manter concentrada, da mesma maneira que é complicado se concentrar para finalizar uma tarefa. Tem tendência à procrastinação, dificuldade em estabelecer um plano de ação e definir objetivos precisos”, exemplificou, em entrevista ao programa “Priorité Santé”da RFI.

Outra característica é a dificuldade em terminar aquilo que começou. Nos relacionamentos, o TDAH tem pouca tolerância à frustração. Muitas vezes, as pessoas que têm o transtorno são taxadas de preguiçosas, quando na verdade apenas não conseguem gerenciar em termos neurocognitivos a demanda por um determinado comportamento.  

“Há, com frequência, julgamentos precipitados e negativos a respeito dessas pessoas que, na verdade, não têm nada de preguiçosas, mas tem apenas dificuldades para se organizar e implementar ações”. Há também uma incapacidade na regulação das emoções. 

Déficit de atenção pode ser mascarado

Alguns pacientes, explica o psiquiatra francês, acabam “mascarando” o déficit de atenção se a impulsividade, por exemplo, não é acentuada, e a pessoa tem um ambiente que favorece a compensação. 

Há também o componente genético – pais com o Déficit de Atenção certamente serão mais desorganizados que a média e isso vai influenciar o comportamento da criança. 

Para Olivier Bonnot, é preciso falar sobre a questão. “Falando sobre o problema, sensibilizamos a sociedade em torno da questão do TDAH. Isso ajuda a evitar a estigmatização”. Elas decorrem lembra, principalmente da falta de conhecimento, que envolve as doenças psiquiátricas. 

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