20/06 | 2 anos de Coletivamente

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“As crianças autistas crescem, tornam-se adultas e envelhecem. E, com isso, mudam também suas questões e seus problemas”, aponta o doutor Francisco Baptista Assumpção Jr., professor associado do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. “Como eu acompanhei essa população, muitos deles por 50 anos, vi de perto esses problemas mudando de forma.”

Ao lado do doutor José Alberto Del Porto, da Universidade Federal de São Paulo, Francisco é coautor do livro “Autismo no Adulto” (Editora Artmed), que venceu, em agosto, a primeira edição do prêmio Jabuti Acadêmico, na categoria Medicina. Ambos os psiquiatras organizaram a obra, que reúne capítulos temáticos assinados por uma equipe multidisciplinar de especialistas, abordando os diversos aspectos do autismo.

O trabalho, lançado em 2023, considera que, embora a prevalência do Transtorno do Espectro Autista (TEA) entre os adultos seja semelhante à prevalência entre as crianças (presente em cerca de 1% da população), o transtorno não recebe a atenção adequada nos programas de saúde nem na literatura médica — como lembram os autores, este é o primeiro livro em português totalmente dedicado ao assunto.

A obra visa a preencher uma lacuna, compilando uma abordagem abrangente sobre o tema, trazendo desde a evolução histórica do conceito de autismo até questões sobre epidemiologia e diagnóstico, passando ainda por sexualidade, tratamento farmacológico e mercado de trabalho.

Cinquenta anos de carreira

Prestes a completar 50 anos de carreira na área, Francisco considera que a vitória no Jabuti tem um duplo sabor especial: marca seu meio século de atuação, ao mesmo tempo em que chama a atenção para uma população ainda invisibilizada.

“No fim das contas, temos problemas que são muito sérios [nesses pacientes], mas que não costumam ser amplamente falados. Resumindo: autonomia reduzida, dificuldades de manutenção, envelhecimento e morte dos cuidadores e ausência de recursos sociais.”

O autor diz que é preciso combater a ideia do desenvolvimento tardio de autismo, como indicam muitos conteúdos sem embasamento científico propagados nas redes sociais e em cursos conduzidos por pessoas sem capacitação adequada na área.

“As pessoas decidiram de repente que o autismo é uma coisa que aparece no adulto. E não é isso. Não existe um ‘autismo do adulto’. Os autistas crescem e ficam adultos. É um quadro crônico do neurodesenvolvimento”, enfatiza.

O psiquiatra destaca que apenas uma pequena parcela da população autista é representada na cultura popular, o que contribui para que outra parte significativa continue invisibilizada.

“Quando se fala de autismo hoje, fala-se principalmente da menor parcela dessa população. É o Sheldon da série “The Big Bang Theory”, é o médico [Shaun Murphy] de “The Good Doctor”. Esses casos são as raridades das raridades”, destacou o especialista, que considera haver constantemente uma romantização desses quadros.

FONTE: https://portugues.medscape.com/verartigo/6511610?form=fpf

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