O TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) é muito atrelado às crianças. Todavia, a psicóloga e especialista em neuropsicologia Anelize Ferreira explica que se trata de um transtorno mental do grupo dos transtornos do neurodesenvolvimento, o que significa que ele se manifesta desde a infância, podendo causar prejuízos significativos na vida das pessoas.
Segundo a especialista, o nome do transtorno faz pensar que os prejuízos causados pelo TDAH se limitam a dificuldades de atenção, ou à hiperatividade ou impulsividade, porém, os sintomas nucleares têm principal impacto em um domínio da cognição que chamamos de funções executivas. “Estes prejuízos também podem ser dificuldade de inibir impulsos, interrompendo pessoas enquanto falam, por exemplo, ou pode ser demonstrado pela dificuldade de direcionar comportamentos a metas devido a uma condição imediatista e pela dificuldade de sustentar estes objetivos a longo prazo”, declara.
De acordo com a psicóloga, também é comum situações de problemas de regulação das emoções, com respostas emocionais desproporcionais às situações.
Anelize ressalta que, as pessoas com TDAH sem o devido tratamento podem desenvolver problemas secundários, como abuso de substâncias, depressão e ansiedade. “Na infância essas dificuldades podem causar prejuízos na escola e no relacionamento interpessoal; já na vida adulta, os prejuízos se relacionam principalmente a impactos no trabalho”, afirma.
Causas
Segundo a psicóloga, as causas do TDAH são predominantemente hereditárias, sendo tais traços, herdados. Porém, existem alguns fatores de risco que aumentam a tendência do desenvolvimento do transtorno. Normalmente, os sinais surgem antes dos 12 anos de idade e devem ocorrer em mais de um ambiente, por exemplo, em casa e no trabalho.
No entanto, a profissional ressalta que, com o aumento da demanda de atenção a estímulos diversos e execução de tarefas exigida pela maior complexidade das atividades que temos atualmente, é possível que estes sintomas se mostrem mais intensamente na vida adulta, fazendo-se necessária uma investigação mais apurada. “Os fatores de risco são principalmente genéticos e fisiológicos, não havendo um gene único para o TDAH. Algumas deficiências físicas e nutricionais também podem predispor uma criança a desenvolver o TDAH”, acrescenta.
Ainda segundo ela, alguns fatores de risco podem predispor ao desenvolvimento do transtorno, como traços do temperamento como menor inibição comportamental. “Características ambientais como prematuridade, baixo peso, exposição pré-natal ao fumo e ao álcool também estão associadas”, destaca.
Tipos da condição, sintomas e diagnóstico
De acordo com a especialista, existem os sintomas de desatenção, que se relacionam com errar em detalhes, manter-se em tarefas mais difíceis, pensamento distante, não finalizar trabalhos ou não seguir instruções até o fim, dificuldade de organizar tarefas ou ambientes, relutância a se envolver em tarefas que exijam esforço mental prolongado e perda de objetos.
Todavia, a profissional acrescenta que, também há os sintomas de Hiperatividade e Impulsividade, que se relaciona com inquietação motora, levantar-se da cadeira em momentos inadequados, se envolver em atividades calmamente, não conseguir ficar parado, falar em excesso, esperar sua vez e interrupções ou intromissões em conversas ou atividades. “Existem subtipos do TDAH, com prevalência de sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade e de apresentação combinada com ambos os sintomas”,.
Anelize ainda afirma que o diagnóstico do TDAH é clínico, feito por um profissional da área, seja ele um psicólogo, neuropsicólogo, neurologista ou psiquiatra. “Os níveis de complexidade são especificados em leve, moderada e grave, e se referem à quantidade de sintomas presentes e o impacto que estes sintomas representam”, explica.
Dados
Ainda de acordo com ela, o transtorno afeta tanto homens quanto mulheres, sendo 2 por 1 em crianças e 6 por 1 em adultos. Apesar disso, ela diz que é mais frequente no sexo masculino, mas nas mulheres os sintomas de desatenção são os que prevalecem. “Segundo o DSM-V-TR (manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais), a prevalência no mundo é de 7,2% das crianças e 2,5% dos adultos. A diminuição da prevalência é justificada pela remissão dos sintomas que muitas vezes é apresentada ao longo da vida”, fala.
Tratamento
Anelize diz que, o tratamento padrão ouro recomendado para o TDAH é a intervenção psicológica na terapia cognitivo comportamental associada à medicação, existindo bom prognóstico comprovado em ensaios clínicos. “A intervenção se baseia em diversos alicerces, desde estruturação de rotina, inserção de hábitos de atividades físicas, orientação quanto a situações do dia a dia direcionadas à resolução de problemas e desenvolvimento de estratégias para lidar com os prejuízos da condição, e diversos outros”, conta.
A jornalista Bruna Ferreira de 30 anos, conta que, na infância as notas baixas serviram de alerta para buscar ajudar profissional. “Na época, meus pais me levaram em um neuropediatra em uma cidade vizinha para me consultar e ver se tinha algo de errado. Ele deu o diagnóstico de TDAH. Foi um susto, porque não se sabia o que era. Tenho dificuldade extrema de concentração que, somada a ansiedade (outro diagnóstico que veio só depois de adulta), me traz bastante problema”, compartilha.
Fonte: D Hoje (https://jornaldhoje.com.br/p/-neuropsic%C3%B3loga-explica-sobre-o-tdah-em-adultos)