20/06 | 2 anos de Coletivamente

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Nos últimos anos, em especial durante a pandemia da covid-19, o assunto saúde mental ganhou força ao redor do mundo. Depressão, ansiedade e solidão foram tópicos centrais nesse período, abordados das mais diversas maneiras dentro do ecossistema virtual. No entanto, outros temas correlacionados sofreram com os excessos de desinformações e os perigos do autodiagnóstico. Entre eles o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), que enfrenta desafios e dificuldades nacionalmente.

Sediado no Rio de Janeiro, no fim de junho, o Congress on Brain, Behavior and Emotion abordou experiências de imersão na área da neurociências, inovação, cultura e prática clínica. Presente no evento, Fabricia Signorelli Galeti, psiquiatra do Ambulatório de TDAH de Adultos da Universidade Federal de São Paulo(Unifesp), destacou a importância de trazer informações de qualidade para a sociedade, buscando a identificação correta e adequada de transtornos mentais.

Para a especialista, temas relacionados à saúde mental estão sendo cada vez mais abordados, tanto por parte de profissionais, que trazem informações sobre diferentes transtornos psiquiátricos, quanto por pessoas que, por meio de suas redes, mencionam diferentes condições, como TDAH, transtorno do espectro autista (TEA), depressão e transtorno bipolar. Por um lado é bom, pois muitos encontraram o diagnóstico correto do TDAH. O grande problema são as notícias divulgadas sem embasamento científico.

“Muitas dessas informações que chegam até a população são fornecidas por pessoas que não são especialistas na área. Muitos acabam se identificando com as descrições do TDAH que assistem em um vídeo, por exemplo”, completou. Paulo Mattos, médico psiquiatra, pesquisador e professor do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, alerta que o diagnóstico precisa ser feito por especialista, para que o tratamento não seja prejudicado. “Os sintomas de desatenção são inespecíficos, isto é, são comuns a vários transtornos diferentes, desde TDAH até ansiedade e depressão.”

“Antes, eu passava uma hora no consultório para convencer a mãe de que o filho dela tinha TDAH. Agora, levo o mesmo tempo para convencê-la de que ele não tem”, acrescentou Paulo. 

Sintomas, identificação e ajuda

O transtorno é caracterizado, principalmente, por desatenção, inquietude e impulsividade. Eles começam na infância, mas podem aparecer com maior evidência na adolescência, no ensino médio ou no trabalho, à medida que as demandas da vida começam a crescer. 

Apesar das características principais, o TDAH apresenta, ainda, 18 itens que ajudam no diagnóstico do transtorno, sendo nove relacionados à atenção e o restante voltado à impulsividade e à hiperatividade. 

Na busca pela avaliação adequada, a família ou o paciente deve procurar um profissional especializado em psiquiatria, neurologia ou neuropediatria. Ambos farão uma longa anamnese, que é basicamente uma entrevista com o paciente.

Em dezembro de 2021, o ex-presidente Jair Bolsonaro sancionou a Lei nº 14.254/21, que obriga o poder público a disponibilizar acompanhamento integral para educandos com dislexia ou transtorno do deficit de atenção com hiperatividade (TDAH) ou outro transtorno de aprendizagem. 

O diagnóstico precoce

O TDAH pode trazer prejuízos sociais ao longo da vida. A impulsividade pode tornar o comportamento das crianças e dos adultos inapropriados nas relações sociais, bem como a desatenção atrapalha a percepção de situações sociais. Ao longo da vida, o TDAH não tratado cursa com impacto negativo na autoestima, sensação de impotência e fracassos recorrentes. A impulsividade, que leva a comportamentos de risco em todas as faixas etárias, está associada a maiores taxas de diferentes tipos de acidentes. Na adolescência e na vida adulta, comportamentos sexuais de risco, gravidez indesejada, maior risco de contrair doenças sexualmente transmissíveis, maior risco de uso abusivo de bebida alcoólica e outros tipos de substâncias ilícitas. Estudos mostram maior dificuldade em gerenciar a vida financeira, maiores taxas de desemprego, e na idade escolar, maiores taxas de fracasso e abandono escolar.  Todos esses impactos podem ocorrer ao longo da vida da pessoa com TDAH que não recebe o diagnóstico precoce.

FONTE: https://www.correiobraziliense.com.br/revista-do-correio/2024/07/6889687-desinformacoes-e-autodiagnostico-os-desafios-que-o-tdah-enfrenta-no-brasil.html

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